Oi, Gente, como vocês estão?
SEGUUURA que hoje o texto vai ser enorme, mas peço pra que vocês leiam até o final pois o assunto é importantíssimo.
Ontem tive o privilégio de assistir a um simpósio sobre o tratamento clínico dos tumores desmóides no Hospital do Câncer de Pernambuco aqui em Recife com a apresentação de alguns casos tratados no hospital apresentado pelo doutor ortopedista oncológico Wagner Carneiro e por doutor Marcelo, ambos parte da equipe multidisciplinar oncológica de lá.
O simpósio contou com a apresentação da experiência do médico ortopedista oncológico no Royal Orthopaedic Hospital em Birmingham, Inglaterra (eu já postei aqui um artigo feito por ele, clica aqui!).
Este simpósio teve o propósito de estabelecer esta ponte entre o que está sendo desenvolvido na Inglaterra e aqui no Brasil.
São tantas as informações que tive lá que não sei nem por onde começar!
O Dr. Abudu começou a palestra explicando que tudo o que sabemos é que nada sabemos! Apesar de ser um tumor benigno, devido a sua alta agressividade, cada caso deve ser estudado individualmente e analisadas as opções de tratamento; clinico, cirurgico ou monitoramento.
o Tumor Desmóide é classificado em superficial, compreendido pelo tumor palmar, plantar, peniano e nas articulações dos dedos, e em profundo, com os tumores extra-abdominais, intra-abdominais, abdominais e multicentrico (o mais raro).
Os tumores extra-abdominais são considerados os mais agressivos. Os abdominais são comuns em mulheres grávidas, têm um crescimento devagar porém progressivo, têm menor ocorrência do que os extra-abdominais e pode ser causado geralmente devido aos hormônios da gravidez ou pelo trauma local da cesária; é bem difícil de encontrar em homens. Já nos tumores intra-abdominais a excisão completa é difícil então é recomendado o tratamento dos sintomas e das complicações específicas.
Entre as principais características deste tumor está o alto potencial de reincidência após ressecção, é mais agressivo em crianças (a cirurgia não é indicada para crianças pois as chances de reocorrer são ainda mais altas), apresenta baixa intensidade de sinal na ressonância, são mais agressivos em mulheres e em idade mais jovem e, por fim e mais importante: o tumor tem uma grande capacidade de se auto-limitar, o que significa que após um determinado tempo o tumor estagna.
Ele nos apresentou um levantamento das reações do tumor desmóide com o tempo e num estudo com pacientes em acompanhamento por 5 anos foi constatado o seguinte:
49,9% dos pacientes que apenas fizeram acompanhamento estavam livres da doença após 5 anos.
58,6% dos pacientes que fizeram algum tipo de tratamento clínico estavam livres da doença após 5 anos.
Quanto à cirurgia, ele defende que não deve ser feito, pois o trauma estimula a reincidência do tumor, porém nos mostou que 70% deles podem ser curados na primeira cirurgia.
Algo que foi bastante frisado foi de EVITAR A AMPUTAÇÃO AO MÁXIMO, pois uma amputação leva a outra, e a outra, e a outra... A desfiguração e mutilação não compensa pois não existe a garantia de que o TD não voltará.
E falando em desfiguração, vocês lembram daquela minha segunda cirurgia em que o médico fez um corte em zigue-zague?
Este corte é a pior decisão que um médico poderia ter tomado, pois este tipo de corte aumenta a área de contato e lesão para que o tumor se espalhe. Ele foi além; disse que em nenhum tipo de "caroço" deve ser feito este corte, ele deve ser reto para minimizar a área de contato, exceto nas dobras da mão, joelhos e cotovelos que não podem ser cruzadas. Na Inglaterra o médico é processado e pode ser preso por negligência caso faça isso.
Caso seja necessária uma nova cirurgia, o médico além de retirar o tumor e a margem livre ao redor, deve também retirar toda a pele em volta da cicatriz em zetaplastia.
Por fim, o Dr. Abudu defente o acompanhamento sem tratamento em casos em que o paciente esteja sem dor e sem crescimento, pois as chances é que, com o tempo, o tumor pare de se desenvolver e até em alguns casos regrida totalmente.
Tive o privilégio de conversar com ele sobre meu caso e ele me aconselhou a apenas acompanhar fazendo ressonâncias periódicas para ver sua evolução. E mesmo que meus tumores venham a crescer, ele não faria nada, contanto que eu continue sem dor, pois, como dito anteriormente, a vantagem de envelhecer é que o tumor tende a estagnar.
E agora o registro pra posteridade: